A TECNOLOGIA DE DRONES NA INSPEÇÃO DO SPDA EXTERNO

Márcio Augusto Teles da Cruz¹

Profissão e Contato²

RESUMO

O RPA (Remotely Piloted Aircraft), mais comumente conhecido como Drone (Zangão), vem sendo amplamente utilizado nas inspeções dos Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) externo, sistemas de captação e descidas. Trata-se de uma pequena aeronave, não tripulada, que está revolucionando o setor de segurança nas edificações. A tecnologia oferece uma solução rápida, eficiente, segura e econômica para inspecionar e avaliar a integridade desses sistemas essenciais. Este artigo explora as vantagens, o funcionamento e as considerações ao implementar RPA nessas inspeções.

 Palavras-chave: Proteção; Zangão; Inspeção; Segurança.

ABSTRACT

Remotely Piloted Aircraft (RPA) more commonly known as Drone, has been widely used in inspections of external Lightning Protection Systems (LPS), collection systems and descents. This is a small, unmanned aircraft that is revolutionizing the building safety sector. The technology offers a fast, efficient, safe and economical solution for inspecting and assessing the integrity of these essential systems. This article explores the advantages, operation and considerations when implementing RPA in these inspections.

Keywords: Protection; Drone; Inspection; Safety.

¹Profissional com experiência de 37 anos em indústrias nacionais e multinacionais. Formação na área de Engenharia de Energia (Unisinos) e Engenharia de Segurança do Trabalho (UTFPR). Atuou por mais de 25 anos no setor de Energia, Petróleo e Gás. Nos últimos 20 anos, atuou na Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul nas áreas de operação com gás natural, elétrica e automação. Elaborou procedimentos de trabalho em equipamentos elétricos, na fiscalização de projetos e inspeção de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, na inspeção de dutos metálicos enterrados, na elaboração de memorial descritivo para licitação de serviços ligados ao setor elétrico e de inspeção de revestimento de dutos. Também atuou na prestação de apoio técnico a outros setores da companhia, como projetos de energia fotovoltaica para sistemas isolados, obras de engenharia e na reabilitação estrutural de dutos metálicos avariados por corrosão e obras de terceiros.

²Consultor e Projetista. E-mail: contato.vitalprevencao@gmail.com

1 INTRODUÇÃO

A proteção contra descargas atmosféricas (PDA), comumente chamada de para-raios, é projetada para proteger uma estrutura contra os efeitos danosos de uma descarga elétrica (raio). Trata-se de um sistema fundamental para a segurança de edificações, instalações industriais e comerciais, bem como a integridade de pessoas e equipamentos contra os efeitos destrutivos de um raio.

A PDA é composta por vários subsistemas que trabalham juntos para garantir uma proteção eficaz. Ela é composta por sistemas internos e externos (SPDA), além das medidas de proteção contra surtos (MPS). A SPDA externo é a parte que é impactada diretamente pela descarga elétrica do raio e pelos efeitos do tempo, como corrosão, deterioração de conexões e condutores, entre outros problemas. Porém, para garantir sua eficácia, é crucial realizar inspeções regulares que verifiquem a integridade dos captores e condutores de descida, o estado das conexões e terminais dos condutores e a verificação da conformidade com as normas técnicas vigentes.  

Tradicionalmente, essas inspeções exigem acesso pessoal a locais elevados, trabalhos em altura e de difícil acesso, o que eleva os custos, tempo e riscos para os técnicos envolvidos nesta atividade.  Mas, atualmente, a tecnologia oferece uma solução rápida, eficiente, segura e econômica para auxiliar na avaliação da integridade desses sistemas essenciais, os chamados RPA (Remotely Piloted Aircraft) ou, simplesmente, drones.

2 A UTILIZAÇÃO DE DRONES NAS INSPEÇÕES 

A inspeção visual deve ser realizada periodicamente, conforme a Norma ABNT NBR 5419-3/2015, item 7.3, para identificar sinais de desgaste nos sistemas externos da PDA. Drones, equipados com câmeras de alta resolução e sensores específicos, oferecem uma alternativa inovadora para auxiliar na inspeção do SPDA externo. Entre os principais recursos utilizados nesta ferramenta, estão:  

• Câmeras de alta definição: captam detalhes precisos da estrutura e do sistema de captação e descida do SPDA externo;  

• Sensores térmicos: detectam sobrecargas ou pontos de aquecimento anormais;  

• GPS integrado: garante a localização exata dos elementos inspecionados;  

• Análise de dados: facilitam a identificação de falhas in-loco e a posterior criação de relatórios detalhados, graças aos registros de vídeo e fotos de alta definição.  

Os RPAs utilizados em inspeção são os multirrotores, não tripulados, com capacidade máxima de decolagem de 25kg e classificados pela ANAC como de classe 3. Estes equipamentos ganham destaque, devido à sua facilidade de permanecer estático e a centímetros do ponto a ser inspecionado. Abaixo, tipo de registro fotográfico que pode ser obtido em telhados de edificações com o auxílio de drones.

Foto 1 ‒ Não conformidade encontrada no condutor de descida do sistema de proteção contra descargas atmosféricas externo

Fonte: Elaborado pelo autor (2024).

2.1 Vantagens do Uso de Drones em Inspeções do SPDA Externo 

Com a sua capacidade de voar a alturas variadas e de se mover em diferentes direções, os drones podem cobrir uma boa área de inspeção em questão de minutos, identificando pontos distantes e de difícil acesso em uma edificação, garantindo agilidade e, principalmente, segurança. Entre as vantagens destacam-se:

• Segurança no trabalho: o profissional não precisa acessar o telhado ou estrutura elevada, reduzindo os riscos de queda;  

• Agilidade: as inspeções são realizadas em menor tempo, cobrindo áreas amplas com rapidez;  

• Custo-benefício: elimina a necessidade de andaimes, plataformas ou outros equipamentos pesados;  

• Precisão: as imagens e dados capturados têm alta resolução, permitindo analisar com detalhes os pontos de inspeção; 

• Transparência: garante qualidade no relatório técnico, pois captura fotos e vídeos de diversos ângulos; 

• Acessibilidade: permite inspeções em locais de difícil acesso ou em condições adversas.  

2.2 Limitações e Cuidados

Embora a utilização do RPA seja atrativa e eficiente, sua aplicação nas inspeções deve seguir alguns cuidados, entre eles: 

• Regulamentação: o uso de drones para fins comerciais, neste caso, as inspeções, segue uma série de regulamentações estabelecidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC); 

• Limitado para condições climáticas adversas: ventos fortes ou tempestades podem inviabilizar a sua utilização;  

• Treinamento especializado: o operador deve ter certificação para garantir que tem conhecimento das regras de voo; 

• Autorização de voo: para áreas mais sensíveis, como proximidades de aeroportos ou centros urbanos, é necessário obter autorização prévia;

Outros detalhes devem ser observados, pois poderão limitar sua utilização, entre eles, a exigência de equipamento homologado pela ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), cadastro junto ao SISANT (Sistema de Aeronaves Não Tripuladas) da ANAC e o número do cadastro fixado na aeronave, autorização de operação no SARPAS (Solicitação de Acesso de Aeronaves Remotamente Pilotadas) do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), apólice de seguro Reta* contra danos a terceiros, manual de voo e relatório de avaliação de risco operacional (seguindo modelo da E94-003). Essas regulamentações garantem a segurança tanto dos operadores quanto das pessoas nas áreas inspecionadas.

* RETA (Responsabilidade do Explorador ou Transportador Aéreo) é um documento legal que formaliza a cobertura de danos que possam ocorrer durante operações aéreas. Trata-se de uma apólice de seguro. É obrigatório para aeronaves, incluindo drones, no Brasil.

2.3 Planejamento da Inspeção

Antes do início dos trabalhos de inspeção do SPDA externo, é recomendável a elaboração de um planejamento, objetivando definir os pontos a serem inspecionados pelo RPA. Para tanto, será interessante possuir um layout, desenho técnico da PDA foco. Estando definidos e conhecidos os pontos onde o subsistema de captação e descida está localizado, será definida a rota de voo do drone. O planejamento deve considerar:

• Objetivos: definir claramente os objetivos da inspeção a ser realizada;

• Procedimentos: estabelecer os procedimentos a serem seguidos durante a inspeção;

• Análise de risco: avaliar as condições do ambiente, os potenciais perigos e as medidas de segurança necessárias para os trabalhos;

• Autorizações e licenças: obter as autorizações e licenças conforme as regulamentações locais; 

• Pontos de difícil acesso: planejar o trajeto de voo em áreas de difícil acesso.

2.4 Boas Práticas na Inspeção com Drones

A boa prática na inspeção com auxílio de drone exige, acima de tudo, planejamento. É a partir dele que se obterá o máximo de agilidade, eficiência e segurança. Pontos como a verificação da carga do RPA, se o equipamento está em perfeitas condições para o trabalho, verificar se o sistema anticolisão do drone está operando, verificar se o sistema de captação de imagem está em perfeitas condições e a avaliação antecipada das condições do tempo são algumas das ações que poderão ser implementadas. 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica evidente que tanto a inspeção do SPDA externo quanto o emprego do RPA em condições climáticas não favoráveis tornam-se impraticáveis.

Os voos com RPAs, objetivando a inspeção do SPDA externo nas edificações, não apresentam grandes riscos para aeronaves tripuladas. Os drones, geralmente, voam muito próximo à estrutura a ser inspecionada e as aeronaves tripuladas não costumam trafegar próximo às edificações. 

Atenção deve ser dada às edificações que possuem helipontos. Nestes casos, recomenda-se uma autorização especial para a operação do RPA nesta área. Durante a análise de risco, a ser elaborada antes do início dos trabalhos, deve apontar situações como essas, que exigem comunicação com órgãos externos e responsáveis pela edificação.

4 CONCLUSÃO

A inspeção do subsistema de captação e descida do SPDA externo, executada com o auxílio de drones, é uma aplicação moderna que reúne eficiência, segurança e tecnologia. Empresas, proprietários e responsáveis pela segurança das edificações, que investirem nessa metodologia, estarão mais bem preparados para garantir a proteção de suas edificações, assim contribuindo para a segurança de todos. 

O objetivo das inspeções com o auxílio de RPA é ter acesso, com segurança, a pontos elevados de uma edificação e de difícil acesso. Essa ferramenta possibilita uma visualização remota dos componentes externos do SPDA, proporcionando avaliar se o sistema está em conformidade com a norma técnica, se seus componentes possuem boas condições e se são capazes de cumprir suas funções. 

O emprego desta ferramenta não resolve todos os problemas, mas quando necessário, sua utilização possibilita ganho de agilidade, redução significativa dos riscos, melhoria na qualidade do trabalho desenvolvido, economia e, principalmente, segurança.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5419: Proteção contra Descargas Atmosféricas: 1. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. CURSOS ABNT: Apostila do curso de proteção contra descargas atmosféricas. 2020. Rio de Janeiro: ABNT, 2020. 

TERMOTÉCNICA, Indústria e Comércio LTDA. Apostila Orientativa sobre SPDA. Disponível em: https://www.tel.com.br/imagenstel/institucional/apostila_spda.pdf .  Acesso em: 21 nov. 2024.

ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil: Classes de Drones (RPA).  Publicado em 24 de abril (2017). https://www.gov.br/anac/pt-br/assuntos/drones/classes-de-drones  . Acesso em: 26 de nov. de 2024.

MODENA, Jobson. O Setor Elétrico: Uso de Drones (RPA) nas Inspeções de SPDA. Edição ? Publicação: 6 de abril (2020). https://www.osetoreletrico.com.br/uso-de-drones-rpa-nas-inspecoes-de-spda/  . Acesso em: 26 de nov. de 2024.

MODENA, Jobson. Portal o Setor Elétrico: Considerações sobre o SPDA externo. Edição ? – Publicação: 15 dez. (2017). Disponível em: https://www.osetoreletrico.com.br/consideracoes-sobre-o-spda-externo/  .Acesso em: 25 nov. 2024.

MODENA, Jobson. Portal o Setor Elétrico: Inspeção no SPDA. Edição ? – Publicação: 12 set. (2017). Disponível em:  https://www.osetoreletrico.com.br/inspecao-no-spda . Acesso em: 25 nov. 2024.